dica de filme ("A Malvada")

Dica de Filme

A Malvada
1950
Direção: Joseph L. Mankiewicz


O CUSTO DA BUSCA DA FAMA A QUALQUER CUSTO

O sucesso e a fama (mais precisamente, a sordidez que envolve os bastidores do estrelato) foi tema de inúmeras produções para cinema, sendo uma das melhores, sem dúvida, "A Malvada". Tendo um roteiro (escrito pelo diretor Joseph L. Mankiewicz) baseado no conto "The Wisdom of Eve" de Mary Orr (mas, que não foi creditado na produção), o filme foi indicado a nada menos que 14 Oscars na época (feito igualado apenas por "Titanic", em 1997 e "La La Land", em 2016), tendo ganhado 6 desses prêmios, incluindo o de Melhor Filme. Inclusive, "A Malvada" é o único filme na história do Oscar a ter quatro atrizes indicadas por suas atuações (Davis e Baxter como Melhor Atriz, e Holm e Ritter como Melhor Atriz Coadjuvante).

Mas, o filme vale quanto pesa? Sim, e muito.




A começar pela excelente direção de Joseph L. Mankiewicz, que mescla um imenso flashback no meio de acontecimento aparentemente comum (a entrega de um importante prêmio do teatro a uma jovem e promissora atriz). 

As apresentações dos personagens vão sendo feitas através da narração de um deles, e ainda assim, ainda não conseguimos formar por completo a personalidade daquelas pessoas, pois, a descrição é, propositalmente, superficial. Por sinal, é outro aspecto que ela o filme à enésima potência de qualidade: o roteiro brinca com estereótipos, muitas vezes, fazendo com que acreditemos que tal personagem agirá de tal maneira, quando, na verdade, agirá de outro.

Valando em roteiro, vale destacar como os diálogos são afiados. Por estarmos falando de pessoas inteiramente ligadas nas baixezas do show business, a língua de quase todos aqui é extremamente ferida e sagaz, com destaque especial para Margo Channing, veterana atriz de teatro, que não tem pudor algum em falar algumas verdades quando elas se mostram necessárias. Uma das melhores personagens do filme, sem dúvida. 

Outro que dispensa comentários é o jornalista e crítico de teatro Addison DeWitt, que ao final do longa que bastante destaque na trama, com diálogos tão mordazes quanto os de Margo, porém, de maneira mais ambígua. 




Porém, o maior atrativo de "A Malvada" é mesmo a sua predileção em soltar críticas ácidas aos bastidores do mundo artístico, em particular, o teatro, mas, sobrando farpas também para o cinema e para a área de comunicações (especificamente, o jornalismo). 

Apesar de existir aquela que pode ser considerada a "vilã da estória", o que temos aqui são pessoas bastante falhas, nem um pouco inocentes, numa fogueira das vaidades onde todos fizeram alguma espécie de concessão moral para continuarem firmes no estrelato. Nesse quesito, a personagem mais fascinante é Margo, que faz questão de não esconder os seus defeitos, e que mesmo que pareça arrogante de início, incrivelmente podemos nos afeiçoar a ela em algum momento.

Tudo em "A Malvada" é superlativo; da direção minuciosa de Mankiewicz (que consegue nos envolver na trama do primeiro ao último minuto), às atuações (todas, sem exceção, magníficas, com destaque para Bette Davis e Anne Baxter). 

O roteiro também se mostra um primor, construindo personagens muito humanos em suas falhas, só pecando por ter, em certo aspecto, um subtexto um tanto machista num determinado momento, quando Margo diz que uma mulher só se completa através do casamento. Um pensamento até compreensivo para a época em que o filme foi feito, é verdade, mas, talvez houvesse meios de limar esse aspecto, visto que a personagem, a todo momento, sempre se mostrou dona de si, e essa fala, em específico, meio que não acaba combinando com a sua personalidade. Ela seria mais sarcástica para falar do casamento, digamos assim.




De uma forma geral, o que temos aqui é um dos melhores filmes de Hollywood, feito em uma de suas épocas mais gloriosas. Ao conseguir abordar temas como o mundo solitário, e, muitas vezes, traiçoeiro das celebridades, a produção consegue falar da condição humana em diversos níveis, mas, dentro de um nicho específico. 

A guerra de egos entre os personagens de "A Malvada" pode muito bem se transferida para qualquer ambiente social que caberá como uma luva. Ao final, o longa expõe que tudo é um ciclo, e que tudo é efêmero. Uma audaz crítica às nossas ambições sem limites, portanto. Poderoso e obrigatório filme.


NOTA: 9/10


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