Dica de Filme

Sinais
2002
Direção: M. Night Shyamalan


Num tempo em que o cinema está cada vez menos autoral, é sempre bom ver um cineasta como Shyamalan que sempre imprime uma assinatura bem particular em seus filmes (com exceção do horroroso "O Último Mestre do Ar"). Mesmo que a maioria de suas obras não sejam um primor em muitos aspectos, pelo menos, são diferenciadas em outros pontos, e isso, sem dúvida, já dá uma certa vantagem. O problema é que, às vezes, é um tipo de cinema tão peculiar, que acaba se perdendo no ego do diretor, fazendo com que ele dê muita importância a certas situações em suas histórias que não precisam de tanta atenção. Esse exagero, por exemplo, quase faz de "Sinais" um filme ruim.

Pra quem já conhece um pouco do diretor, não vai encontrar grandes surpresa aqui em termos temáticos. Como nos seus melhores momentos, Shyamalan aborda questões como fé e núcleos familiares problemáticos. E, isso se resume bem na persona do protagonista, Graham Hess. Ex-padre, Graham abandonou a batina após um terrível acidente que vitimou sua esposa. Após a perda, questionou seriamente a sua fé, mas, vez ou outra, ainda é chamado de "padre" pelos moradores da pequena cidade onde vive, e que sempre lhe pedem conselhos. Totalmente avesso a tudo que seja relacionado à espiritualidade, no entanto, ele se mostra seco e recluso até mesmo com os seus dois filhos pequenos e o irmão, sua única família agora.




Acontecimentos sinistros, no entanto, vão testar a fé de Graham ao longo da trama. Quando aparecem estranhos desenhos em seu milharal, ele pensa se tratar de alguma brincadeira. Só que esses mesmos "sinais" surgem em diversas partes do mundo, e as pessoas passam a ser questionar o que são e o que significam. Com o passar do tempo, a verdade vem à tona: esses desenhos foram feitos por extra-terrestres. A única maneira de Graham e sua família se informarem do que está acontecendo é pela TV. E, é através dela que, estarrecidos, eles veem não somente novos "sinais" aparecerem, mas, também luzes que parecem ser de espaçonaves ao redor do planeta. Com mais especulação do que fatos em si, todos, então, preparam-se para algum ataque desses seres.

O roteiro, mesmo pecando por alguns diálogos bobos e constrangedores, aborda bem assuntos como paranoia e como as relações entre as pessoas, inclusive, no seio familiar podem ficar abaladas em decorrência de algum perigo eminente. Mas, é também através desses conflitos que surge uma interessante redenção entre eles, principalmente, entre Graham e seu filho, Nesse aspecto, as emoções retratadas são muito comoventes e genuinamente bonitas. Pode parecer um tanto trivial e até ingênuo esse artifício de que, em decorrência de um mal externo, a família precise ficar unida para sobreviver, porém, tudo é construído de maneira correta, e até um puco lenta, como é de praxe de Shyamalan.




Não nos esqueçamos, porém, que "Sinais" é vendido como um filme de terror, e em certo aspecto, ele não decepciona nesse sentido. O diretor sabe muito bem como prender a atenção do espectador e deixá-lo tenso, às vezes, com uma mera sugestão de perigo ou com um som um pouco mais estranho vindo de algum lugar. Nisso, o silêncio é primordial pra algumas cenas, deixando uma sensação de angústia crescente. O problema é justamente o desfecho da história, e não digo nem pelo fato da fraqueza dos aliens ser algo tão banal, mas, sim o fato de que quando uma das criaturas, finalmente aparece o filme perde muito de suas qualidades. Primeiro, porque há enormes furos de roteiro (atitudes burras dos personagens) só para deixar a trama fluir. E, depois, porque o alien, em si, não é tão assustador como se pressupunha.

As atuações estão só ok. Mel Gibson está até convincente como o protagonista do filme, passando desespero e tristeza na medida certa, ao passo que o quase sempre fenomenal Joaquim Phoenix está meio que no piloto automático aqui, ao passo que os pequenos Abigail Breslin e Rory Culkin estão em interpretações bem melhores, e roubam a cena sempre que aparecem. Já, a direção de Shyamalan é aquela história: ame-a ou odei-a, não há meio termo. Só que em "Sinais", ela não está tão chamativa assim, o que é muito bom, e o que, de certa forma, estragou um pouco a experiência do seu filme anterior, "Corpo Fechado". Sabendo aqui, porém, trabalhar muito bem com jogos de câmera e luzes (ou, a falta delas), o cineasta consegue manipular a história de forma satisfatória e com mais naturalidade.




"Sinais" é, portanto um bom filme, e somente isso. Contudo, ele poderia ter sido bem melhor se Shyamalan tivesse tido um cuidado maior com o roteiro, evitando certos diálogos e cenas um tanto ridículas. Mesmo assim, é uma produção bem interessante, que utiliza a alegoria de uma invasão alienígena para falar de assuntos mais íntimos e delicados de uma maneira bem particular. É, portanto, um tipo de cinema cada vez mais escasso, e por isso mesmo, mais importante de prestigiá-lo, mesmo que o resultado final tenha ficado aquém de suas possibilidades. Ainda assim, válido.


NOTA: 7/10


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