Dica de Filme

Temporário 12
2013
Direção: Destin Daniel Cretton


Filmes com lição de moral sempre correm o risco de serem piegas demais, afastando aquele público mais exigente. Isso porque, além das boas intenções (totalmente louváveis), estamos falando de cinema, e como tal, precisa ter boa direção, boas atuações e bom roteiro para que tudo se junte à ideia central, e a mensagem possa ser vista pelo máximo de pessoas possível. "Temporário 12", do estreante Destin Daniel Cretton vai nessa linha: é muito bem realizado, mas, os seus princípios estão lá, intactos e visíveis, algo, mais ou menos, na mesma linha do fantástico "O Substituto - Indiferença".

Foi a partir de um curta metragem de 2008 que o diretor ampliou o conceito da ideia, e fez este "Temporário 12". A trama se baseia nas experiências pessoais do próprio cineasta, que colheu, através de depoimentos, um pouco do que vemos no longa, com algumas adaptações e modificações nos nomes, claro. Tudo se passa num centro de acolhimento para jovens em situação de risco, e como é o dia a dia neste local. A trama tem como foco Grace, supervisora da instituição que, além de lidar com os problemas pessoais de cada um dos jovens, ainda precisa administrar traumas de infância que, vez ou outra, atormentam sua vida.




Tenho que admiti que o início do filme é um tanto forçado e caricato, com uma conversa que beira o ridículo só para tentar mostrar um pouco da personalidade de cada um dos personagens, de Grace, ao seu namorado Mason, chegando ao novato e inexperiente Nate. Existem artifícios melhores para começar mostrando os protagonistas de um filme, e este, sem dúvida, não é um deles. Ficou estranho, como se tivéssemos no meio da verborragia das produções de Tarantino, o que, evidentemente, acabou deslocado do contexto. Felizmente, após esse início ruim, "Temporário 12" se "acalma", e passa a desenvolver a trama com paciência e com interesse suficiente para prender a atenção do espectador.

À primeira vista, as histórias dos jovens ali na instituição parecem muito clichês, mas, a forma como elas vão sendo abordadas faz tudo soar natural, espontâneo, dando a impressão de que estamos diante de um documentário. E, essa forma do roteiro tratar todos esses pequenos dramas é muito interessante, pois, testar o nosso poder de empatia, obrigando a gente a aguardar os desdobramentos da história para que possamos gostar daqueles jovens, e entender, de algum modo, o porquê de tanta revolta. Os que melhor são desenvolvido nessa aspecto são Marcus e Jayden, cuja revolta  de ambos é, mais ou menos, similar, e são o que, aparentemente, precisam de maiores cuidados.




É também muito interessante a forma como Grace é mostrada ao longo da história. Mesmo sendo a supervisora do local, e mostrando mais equilíbrio no trato com os adolescentes internados ali, ela, assim como aqueles jovens, expõe, em alguns momentos, as suas fraquezas, mostrando que até ela é uma pessoa comum, e que não pode resolver tudo. Por sinal, em situações pontuais são alguns dos internos que a colhem mais e a ajudam do que vice e versa. A relação dela com Mason é igualmente bem construída, sem grandes arroubos dramáticos, e ainda justificando, em determinado instante, o porquê de ambos trabalharem em algo assim. São momentos bonitos, honestos, e que fogem a qualquer forma de pieguismo.

Para compor personagens tão bons era necessário que o elenco estivesse afiado, e, ainda bem, é o que encontramos em "Temporário 12". O destaque, nesse sentido, claro, vai para Brie Larson, que faz muito bem uma Grace, em certos momentos, esgotada com o seu trabalho, mas, incentivada a todo instante a continuar. Sem precisar ser uma interpretação histriônica, ela convence com pequenos gestos aqui e acolá. John Gallagher Jr. faz um Mason sem muito esforço também, apenas se deixando levar pelo bom texto, e os diálogos naturais. Até Rami Malek, o Mr. Robot da série de TV, tem tempo suficiente para mostrar talento. E, o elenco juvenil (de Keith Stanfield a Kaitlyn Dever) entregam performances muito convincentes, o que abrilhanta ainda mais o filme. 




Mas, o grande mérito da produção, mesmo, vai para o cineasta Destin Daniel Cretton. A partir de um fio narrativo simples, ele conseguiu fazer um drama muito interessante sobre um recorte social que, muitas vezes, passa batido por todos: os dramas de crianças e adolescentes abusados e agredidos que não encontram outra perspectiva a não ser a de revolta contra tudo e todos. Como um "Meu Mestre, Minha Vida" mais moderno, "Temporário 12" está naquele rol de filmes que podem até ser julgados de piegas e moralistas, mas, cujos princípios, envolvendo o mais puro altruísmo, são mais fortes do que qualquer julgamento precipitado. É, enfim, um filme cativante, e por que não dizer?, necessário.


NOTA: 8/10


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