Dica de Filme

O Vídeo de Benny
1992
Direção: Michael Haneke


Falar sobre a influência da violência na mídia para as pessoas, em especial, entre os jovens, já gerou filmes muitos bons (e, polêmicos, diga-se de passagem), que apresentaram diversas abordagens. Desde o frenético "Assassinos por Natureza" ao introspectivo "Assassino(s)", todos tinham um ponto em comum: a perda do valor da vida humana e a banalização da brutalidade. A desumanização, enfim. Então, imaginem o que Haneke, um cineasta reconhecido por não fazer concessões, faria com um tema desses. O resultado é este "O Vídeo de Benny".

Trata-se do segundo filme da chamada "trilogia da incomunicabilidade" que Haneke fez há alguns anos, e é esse mesmo o mote que vamos encontrar ao longo do filme: a dificuldade de comunicação entre os personagens. Benny é um jovem que tem um pequeno estúdio em seu quarto, e é muito mimado pelos pais. No entanto, simplesmente não consegue conversar com eles. Nem com seus amigos. Suas falas são soltas, sem profundidade, nunca expondo o que pensa. Sua válvula de escape são os vídeos que vê em seu quarto, na maioria, com bastante violência, como uma gravação caseira onde um porco é morto de maneira brutal.




A vida de Benny não existe se não em função dos vídeos que assiste. Sua existência não passa de uma ficção e suas emoções se tornaram estéreis. Pra ele, não faz diferença ver um porco sendo morto, ou o linchamento de imigrantes num determinado país. Tudo não passam de imagens soltas, que ele, simplesmente, não absorve. Os pais contribuem bastante para esse comportamento sendo completamente omissos. Pouco ou nada se interessam pelas coisas do filho, são monossilábicos com ele e, igualmente, não demonstram nenhuma emoção.

Porém, um fato inusitado (e, terrível) ocorre, mas, mesmo assim a rotina de Benny pouco ou nada é abalada. Após esse ocorrido, ele se comporta da forma mais tranquila possível, e o que é mais chocante na história é que os pais também. Depois que sabem da tragédia, colocam todos os assuntos em pauta, como o futuro e a imagem social de Benny, menos o que é mais importante. É como se a insensibilidade fosse algo generalizado na família, onde a vida humana, assim como nos vídeos que Benny vê, é o que menos interessa.




O filme incomoda, justamente, por isso: forçar uma naturalidade diante de algo horrendo. Nesse sentido, a produção tece uma bem-vinda crítica social, não culpando somente os meios de comunicação por influenciarem atitudes violentas, mas também as pessoas responsáveis pela criação dos jovens, sejam pais, professores, enfim. O único problema do longa é o velho tique de Haneke em se prolongar demais cenas onde a economia se faz necessária. Certas falas e situações acabam se arrastando em demasia, fazendo o filme perder ritmo muito facilmente.

Conta a favor atuações muito boas de todo o elenco. Por sinal, o ator que interpreta Benny, Arno Frisch, voltaria a trabalhar com Haneke cinco anos depois, na primeira versão do também polêmico "Funny Games". Na narrativa, o cineasta impõe imagens muito significativas, como os closes das fitas que Benny aluga, e do lanche que ele sempre faz, regado a muito MacDonald's. Em outros momentos, também é interessante o uso das câmeras do próprio quarto do garoto, que gravam suas ações, como se, de fato, ele visse sua vida como um mero vídeo, uma ficção da TV.




Errando em alguns pontos, mas, acertando em tantos outros, "O Vídeo de Benny" cumpre bem o seu papel de questionar coisas como a banalidade da violência nos meios de comunicação e a negligência na educação que estamos dando atualmente a nossas crianças e jovens. Às vezes, incômodo, porém, necessário para o que vivemos atualmente. Um dos trabalhos mais interessantes de Haneke.


NOTA: 8/10

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