Debate Sócio-Político

R.I.P. JORNALISMO


O jornalismo, pelo menos, o brasileiro, está decadente, em coma, quase morto. Não que no restante do mundo a imprensa não dê ares de circo de vez em quando, mostrando que a mídia pode mais desinformar e distorcer do que qualquer outra coisa. Mas, no Brasil é um pouco diferente. Aqui, temos uma cumplicidade generalizada, muito bem mascarada pelo nosso famoso "jeitinho", que não vê nada de mais em o jornalismo se prestar a ser bajulador de governos ou de empresas privadas. Liberdade de imprensa ou liberdade de empresa? Não há diferença, pois o interesse nunca é o bem comum, da sociedade como um todo.

Exemplos? Muitos. É o caso da polarização que a revista Veja sempre fez, mas, que hoje está escancarada de forma além da vergonha. Claramente, ela não faz um jornalismo de crítica e denúncia, mas, de fofoca e de escracho. A capa dessa semana, só para se ter uma ideia, remete mais a publicações de games e histórias em quadrinhos do que em fatos noticiosos. Chamariz para o grande público? Dinamismo gráfico? Ou, simplesmente, transformar fatos sérios em piadas dantescas, para nivelar o debate por baixo? Infelizmente, a segunda opção é a mais viável para entendermos aonde o jornalismo brasileiro se meteu.


Bom frisar que este texto vai também para aqueles jornalistas que recebem subsídios do governo federal, e que também se dignam a fazerem um jornalismo chapa branca, aonde não há críticas, e as informações são direcionadas a interesses muito particulares. Esses, igualmente, estão prestando um desserviço naquilo que suas profissões se propõe: o entendimento da realidade através dos fatos. Muitos até dirão que se trata de uma profissão como qualquer outra, e que, como tal, está atrelada aos interesses de quem é o contratante do serviço. Só que não estamos falando de um simples consumo, como de uma roupa ou celular. A informação, como sabemos, determina em que ponto as coisas importantes para a sociedade podem chegar, ao bel prazer de quem pagar mais. Chega a ser criminoso.

Saliente-se que quem está escrevendo este texto é um jornalista idealista, que já não pensa em mudar o mundo com a sua profissão, mas, que exige, ao menos, o mínimo de ética entre os companheiros de profissão. Talvez o fato de muitos terem assistido, na faculdade, "Todos os Homens do Presidente" primeiro do que "Rede de Intrigas" tenha feito muito mal na cabeça de alguns comunicólogos. provavelmente, tenha dado a entender que a cada esquina encontraremos o nosso "Watergate", e alavancaremos a carreira com isso. No entanto, na falta de escândalos, muitos "criam" um, ou, simplesmente, potencializam fatos, puxando mais para o lado do interesse de seu patrão.


Outro exemplo bem claro dessa postura maniqueísta reside no "noticioso" Jornal Nacional. Da rápida decisão de pauta sobre o vazamento das conversas entre Dilma e Lula nas últimas semanas, até notas, às vezes, sem imagens, curtíssimas, sobre os desmandos da oposição, como a máfia das merendas em São Paulo, o jornalismo desse programa já escolheu um lado, e ele não é bom. O artifício de dar destaque mais a escândalos envolvendo o PT do que os de outros partidos demonstra que a preocupação está longe de ser a informação. Há quem acredite em imparcialidade, porém.

Claro, Veja e Jornal Nacional são os representantes mais óbvios desse cenário. Mas, há aqueles "pseudo-jornalistas" que reproduzem matérias e informações deturpadas, apenas com o intuito de mascararem sua posição partidária. Polarização virou moeda de troca, e o mínimo de jornalismo que ainda existia aqui está indo por água abaixo. Solução? A curto prazo, não. É apenas identificar bem essa comédia de erros, e criticar o quanto puder, Ainda podemos ter um bom jornalismo? Ao que tudo indica, só uma iniciativa popular para melhorar o quadro, pois, a depender dos gordos contra-cheques assinados (de ambos os lados), ainda vamos ser obrigados a ver muita imprensa fajuta por aí.


Erick Silva
09/04/2016


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