Debate Sócio-Político

O GRANDE ERRO DE DILMA


A política é uma arte, já dizia o filósofo. E, como toda arte, ela também possui os seus gracejos, as suas particularidades e exige um certo grau de "esperteza". Infelizmente, é assim que a política brasileira funciona, não tem jeito. Tendo nós, o povo, o eleitor médio, como cúmplices de tudo o que não presta nesse meio. Não raro, achamos normal, ou até "necessário", que certas atitudes sejam tomadas em nome do que se acostumou chamar de "governabilidade". Em suma, para um representante público exercer seu cargo, precisa vender sua alma para Deus e para o Diabo em doses iguais. E, talvez tenha sido esse o maior erro de Dilma no cargo de presidente.

Ela, simplesmente, não soube como lidar com alianças que, como todos sabem, são fadadas ao fracasso, pois cobram um preço muito alto. Desde a gestão extremamente corrupta de Sarney, no final dos anos 80, pós-redemocratização, já mostrava, claramente, que um determinado partido, o PMDB, era quem mandava direta ou indiretamente na tal "governabilidade". Sejam nos cargos de vice-presidentes, ou na Câmara de Deputados e no Senado, a legenda sempre teve como característica usar de chantagem para conseguir seus interesses. E, ao lado do antigo PFL (hoje, DEM) e do PSDB, configura-se como um dos partidos mais corruptos do atual cenário político (pra não dizer, o maior).



O verdadeiro vacilo de Dilma foi, impulsionada pelos manda-chuvas petistas, ter achado que poderia fazer alianças escusas com o PMDB, e ao mesmo tempo, termos uma mega-investigação (a Operação Lava-Jato) que acabou encontrando casos de corrupção envolvendo não somente a oposição em massa, mas, também o próprio PMDB. Obviamente, que o partido de notórios facínoras como Eduardo Cunha, Michel Temer e Renan Calheiros não iria deixar barato. A partir do momento em que as investigações avançaram, mostrando que todos (repito: TODOS) estavam implicados, Cunha aceita o pedido de impeachment de Dilma. Coincidência, não?

O inúmeros erros de gestão de Dilma, se configuram mesmo um impedimento ao seu cargo, então, que isso não se aplicou em presidentes anteriores, foi estranho. Tomemos como exemplo as chamadas pedaladas fiscais. Elas foram executadas amplamente por Lula e FHC (este, realizando nada menos que 1000 pedaladas fiscais somente no ano de 2001). E, se formos levar em consideração tal artifício dos governos, atualmente, 16 governadores estaduais deveriam sofrer impeachment, incluindo um dos ícones do PSDB, Geraldo Alckmin, que hoje governa o estado de São Paulo. Portanto, seria mesmo o processo de impeachment, que provavelmente se encerrará próximo domingo, dia 17, um combate à corrupção, ou seria um articulado "cala-boca" nas investigações?



Para o nosso azar, creio que a segunda opção é a que melhor representa os interesses de quem está à frente desse processo. Está claro como água que, caso Dilma saia no próximos dias, a Operação Lava-Jato não dura mais do que dois meses, sem praticamente ninguém punido. É esse o clima, inclusive, das manifestações de rua pró-impeachment, que, tirando raríssimas exceções, apenas se apoia na ideia de que após a saída do PT do governo tudo melhora. Nesse intervalo de muito analfabetismo político e reações extremadas de partidários de ambos os lados, coisas realmente relevantes não são discutidas, como, por exemplo, a importantíssima Reforma Política, essa sim, uma verdadeira arma de combate à corrupção.

Mas, como dito no início deste texto, Dilma acho que poderia governar ao lado do Diabo, e, ao mesmo tempo, dar aval ao padre para excomungá-lo. Resultado: nem Céu, nem Inferno; apenas um purgatório, onde a hipocrisia dos ataques a ela reina absoluto. Enquanto isso, esperemos o resultado do próximo domingo, que, independente do resultado, e a julgar pela crítica seletiva que tomou conta de todo e qualquer debate, nós, como cidadãos, já perdemos. A autêntica corrupção, de quem agora comanda esse mal-fadado impeachment, agradece.


Erick Silva
11/04/2016

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