Dica de DVD

Ao Vivo em Recife
2012
Artista: Nação Zumbi


Algumas coisas são incompreensíveis no meio artístico. Tipo: em 2009, na Praça do Marco Zero, em Recife, a Nação Zumbi, reconhecidamente uma das melhores bandas em atividade no Brasil e notória por fazer ótimos shows, não fez uma boa apresentação para a gravação deste DVD. Problemas técnicos acabaram minando tanto o grupo, que, visivelmente, mostrou-se irritado no início da apresentação, e a platéia, que, em alguns momentos, "relaxou" demais.

Some-se a isso uma informação desencontrada: em decorrência dos 15 anos do lançamento do primeiro disco da banda ("Da Lama ao Caos", ainda com Chico Science), e pelo fato dela, meses antes, ter tocado esse disco na íntegra no Festival de Inverno de Garanhuns, pensava-se que o mesmo aconteceria com esse show no Marco Zero. Ledo engano. A gravação deste DVD não conteria essa performance, e as primeiras músicas tocadas explicitavam isso, o que deixou o público um tanto frustrado.

E, mesmo assim, não é que o DVD "Ao Vivo em Recife" acabou ficando bom?


Isso se deve a dois fatores: primeiro, a Nação Zumbi, mesmo em seus piores momentos, ainda consegue estar acima da média de muita banda popular por aí. Por sinal, não reconhecer que a Nação não é popular é quase uma má-fé, pois arrastar 80 mil pessoas numa plena quarta-feira à noite não é pra qualquer um! Além disso, os fãs da banda são empolgados por natureza em qualquer show dela, em qualquer circunstância. Basta que vislumbremos o "mar de gente" pulando em uníssono logo no início do show, com "Fome de Tudo" e "Hoje, Amanhã e Depois".


Inclusive, essa abertura é o ponto alto do DVD, mostrando grande competência do grupo, com uma sincronia impressionante para com o seu público. Na sequência temos o primeiro clássico da "era Chico": a música "Etnia", que também mostra o quanto a Nação continua instigante. A maravilhosa "Inferno" vem a seguir, com sua melodia fascinante, e calmamente assustadora. Uma bela pausa para a platéia, que mesmo com os problemas técnicos no início do show não parava um instante.

A primeira "participação especial" não poderia ser melhor: Siba e a Fuloresta transformam o Marco Zero num imenso carnaval, com um baita naipe de metais unidos ao peso da Nação. Tudo em favor da toada de maracatu rural na canção "Trincheira da Fuloresta". Outra participação de destaque é a de Fred 04 na insuperável "Rios, Pontes e Overdrives". Pena que a música se arrasta e se alonga um pouco além da conta.


Já, "Infeste" é o tipo de música que não funciona bem ao vivo. Fica difícil entender porque a banda ainda insiste em colocá-la em seus shows. Muito melhor seria se pusessem mais um clássico no set list. Porém, logo após, a banda se recupera com a instrumental "Salustiano Song", com mais "participações especiais", desta vez, com dois caboclos de lança no palco. Coisa maravilhosa.

O grande Arnaldo Antunes ajuda a levantar ainda mais o público em "Antene-se". Já estamos perto do final da apresentação, e, no entanto, a sensação de que poderia ter sido melhor em muitos momentos fica latente. Faltaram muitas músicas pra animar de verdade a platéia. Além do mais, a banda se mostrou tensa com os problemas técnicos que aconteceram ao longo do show, o que a impedia de se soltarem mais. Isso foi nítido e fez a diferença (pelo menos, pra quem estava lá, no calor do momento).


Ao menos, o final do show compensou (um pouco) esses deslizes. "Jornal da Morte" é mais pesada do que muito heavy metal por aí. "Maracatu Atômico" dispensa apresentações, e mesmo que nessa nova versão da banda atualmente ela tenha ficado mais lenta e pesada, continua uma baita canção de se tocar ao vivo. E, pra finalizar, a participação competentíssima do Paralamas do Sucesso em "Manguetown".

Foi um show excelente, como a banda costuma fazer? Longe disso. Ficou entre o mediano e o bom. Só. Porém, o produto DVD ficou como uma bela amostra do poder de fogo de uma banda que, sem tocar na grande mídia, e aos trancos e barrancos, fincou sua importância na música brasileira recente, como uma das mais criativas de sua geração.


Caso a produção deste show tivesse se esmerado mais e certas informações não tivessem sido tão desencontradas, teríamos um registro perfeito. Mesmo assim, a aquisição é mais do que válida.

E, viva a Nação!


NOTA: 8/10

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