Dica de Livro

A Morte é uma Transição Solitária
1985
Escritor: Ray Bradbury


"... há alguns anos descobri que, quanto mais eu pensava, pior meu trabalho ficava. Todo mundo acha que se deve pensar sem parar. Não, eu vou sentindo e escrevo, torno a sentir e escrevo e, no fim do dia, penso, reflito no assunto; a reflexão vem depois".

O estilo do escritor Ray Bradbury lhe é todo peculiar. Mescla, com bom domínio narrativo, elementos do cinema, o que confere maior dinamismo à leitura de seus livros. Não à toa, uma de suas melhores publicações, "Fahrenheit 451", foi bem adaptado para a tela grande pelo cineasta François Truffault. "Morte é uma transação solitária" vai pelo mesmo caminho, e se sai muito bem.

Trata-se do primeiro romance de Bradbury no gênero, o que pode ser classificado como policial fantástico. A estória, aparentemente simples, fala de misteriosas mortes ocorridas num cais flutuante na cidade de Venice, Califórnia. O clima do local torna-se ainda mais desolador devido à demolição de várias edificações antigas, entre elas um parque de diversões. O único que desconfia que as mortes, na realidade, são assassinatos é um jovem escritor, que tenta convencer um detetive (Elmo Crumley) de suas suspeitas.


A linguagem ora mostra situações diretas e claras, ora apresenta boas analogias (as carcaças dos brinquedos do parque de diversões, por exemplo, são comparadas a grandes dinossauros mortos). Há também muito onirismo no enredo, já que o jovem escritor mostra-se bastante sonhador, cujas mortes ocorridas recentemente acabam provocando seu mais profundo íntimo.

Outro ponto positivo do livro são suas referências literárias, e, principalmente, cinematográficas. Tanto é que uma das edificações a serem demolidas é um antigo cinema da cidade, onde o dono tem o jovem escritor como um grande amigo, pois este, desde criança, frequentava o lugar. Há, inclusive, uma personagem que era atriz de cinema mudo, e passa a ajudar o protagonista da estória na sua investigação dos prováveis assassinatos.


Só que assim como bons filmes policiais, "Morte é uma transação solitária" padece de alguns males; clichês muito comuns nesse tipo de narrativa. Furos e situações um tanto forçadas quebram um pouco o ritmo, fazendo o leitor se perguntar como os personagens conseguiram tal façanha ou não conseguiram enxergar coisas tão óbvias. Certas frases de efeito presentes aqui reforçam isso. Não compromete o resultado, mas são coisas que poderiam ter sido evitadas.

Mesmo assim, este continua sendo um ótimo e agradável livro de se ler. A estória é envolvente, empolgante e os personagens são carismáticos. As boas referências de alguns meios artísticos completam esse pacote de respeito que Bradbury nos oferece.


NOTA: 8,5/10

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